Quem tem medo das cotas?

MARCELO BATISTA DE SOUSA - Professor, presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Santa Catarina (Sinepe-SC)

Está comprovado, ao longo da história da humanidade, que o protecionismo nunca foi o melhor aliado do desenvolvimento. Invariavelmente, costuma ser o reduto da acomodação e da mediocridade. O emocionalismo que vem cercando a discussão está obscurecendo alguns pontos fundamentais. De fato, há um grande rebuliço em Santa Catarina com a implantação das cotas na UFSC. O importante é que a educação seja discutida séria e desapaixonadamente, e que todos os envolvidos no tema sejam ouvidos. De resto, é oportuno recordar: não existem meias-verdades que se tornam "verdades".

Dezenas de estudantes, achando-se atingidos por uma atitude que qualificam de ilegal, continuam recorrendo à Justiça na tentativa de anular a decisão da universidade. Centenas de leitores têm escrito enérgicas cartas e artigos colocando em xeque o assunto. Nas rodas de amigos, nos almoços dominicais em família, nas esquinas das cidades, nas mesas dos botequins, todos discutem os seus sonhos ou os sonhos de seus filhos de ter acesso à universidade.  Até agora houve muitos e veementes prós e contras – se bem que o número daqueles que vêm se manifestando publicamente contrários às cotas seja bem mais expressivo.

De minha parte, alguém poderá dizer que se trata de simples coincidência, mas estou absolutamente convencido: os motivos que deram origem, para vergonha nacional, dos gastos de determinados burocratas do governo com os chamados "cartões corporativos", são os mesmos que estão na raiz das cotas nas universidades, aqui e alhures. As justificativas ideológicas do governo vigente não convencem e nos levam a recordar aquele triste, velho e surrado argumento segundo o qual os fins justificam os meios... Na verdade, o acesso à universidade não pode ficar reduzido ao domínio dos "macetes" criados pelos burocratas de plantão, por mais engenhosos que sejam. Em minha opinião, e para se preservar as características da tradição universitária, só existe um caminho absolutamente justo para se obter vaga no ensino superior: é o critério do merecimento. Entra quem tem mérito, e pronto.

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